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Gabriella Sperati

Encruzilhadas da vida


“Não vejo sentido em trabalhar no que trabalho. Quero encontrar outra coisa para fazer, que me traga maior realização, mas não sei o quê.”


“Meu emprego é terrível, o ambiente de trabalho é muito ruim, não sei se quero continuar lá. Mas como sair? Para onde ir? Como conseguir outro trabalho que pague tanto quanto lá?”


“A relação com meu marido está insuportável! Ele faz com que eu me sinta culpada o tempo todo, sem eu nem saber o porquê.”


“Meu filho está metido em sérias encrencas e talvez eu tenha que tomar decisões muito radicais. Tenho medo de me arrepender depois.”


“Meu pai já não me reconhece, está agressivo, inclusive com os cuidadores. Talvez seja melhor interná-lo numa casa de repouso. Mas não consigo nem pensar nisso!”


Estes são apenas alguns dos dilemas pelos quais podemos passar na vida. Em consultório, ouço muitas variações dos tipos de situações que coloquei acima. São momentos que pedem decisão, mas não temos a menor ideia sobre o caminho certo a ser tomado. Até porque, o cenário em questão é sempre sofrido e doloroso, mas qualquer que seja a ação a ser tomada, possivelmente também será.


E ficamos entre a dor conhecida, com a qual já estamos acostumados a lidar, com frequência, há anos, e o medo do novo, do desconhecido - muitas vezes, o medo de ser feliz.


São momentos em que, tomarmos uma decisão ou estancarmos o fluxo de alguns acontecimentos pode nos trazer a resolução de uma situação e a diminuição de uma dor propiciando-nos a possibilidade de vivermos várias áreas da vida de forma mais completa e adequada.


Porém, a angústia e o medo de tomar a decisão errada, que talvez não traga os resultados positivos que imaginávamos, muitas vezes nos imobiliza num cenário que nos parece sem saída. E ficamos aprisionados, apenas querendo muito que tudo fosse diferente, que as pessoas mudassem, que o ambiente se transformasse, que os fatos não tivessem acontecido, que, no passado, nossas escolhas tivessem sido outras.


Indispensável pensar que, inquestionavelmente, o passado não pode ser mudado. Portanto, fica extremamente improdutivo e angustiante focarmos na tônica de como devia ou não ter sido o passado.


Outra coisa muito clara e certa, é que não mudamos aquilo que não está em nossas mãos. Por exemplo: o jeito do outro, a política da empresa, o ritmo de desenvolvimento de alguém, a interrupção de uma doença grave – coisas do presente, com as quais temos que lidar, fazem parte da vida.


Ainda assim, é muito comum nos questionarmos sobre “se eu soubesse, naquela época...”, “se tivesse prestado atenção...”, “se alguém tivesse me avisado...”. Muitas vezes, responsabilizamos o passado e os outros por nossa realidade tão dolorosa no presente. Ou apenas assumimos uma pesada culpa, que nos torna não merecedores de sair da dor.

E então, o futuro se transforma numa caverna escura, amedrontadora e sem fim. Nada temos nas mãos a não ser o nosso presente.


Levar em consideração nossa bagagem de vida, assim como fazer uma análise de risco são recursos a serem utilizados em cada encruzilhada pelas quais passamos. Mas como usaremos esses recursos? Se cairmos na armadilha dos “ses” - “se eu soubesse”, “se alguém tivesse me alertado”, “e se não der certo?”, “E se não for como eu penso?” etc. – o estado das coisas demorará ainda mais para passar e/ou se resolver! Sim, porque uma das convicções mais importantes e indispensáveis para se ter, sempre, é que “isso vai passar”. Muita coisa vai mudar ao longo do tempo que temos pela frente. Resta saber no que nós vamos mudar!


Então, mantendo-se no presente, peça ajuda para pessoas amigas ou familiares. Nem toda opinião será acertada, mas todas serão úteis no sentido de podermos comparar pontos de vista diversos, com oportunidade de enxergarmos melhor o que poderíamos fazer, mas também, o que jamais faríamos, por mais que respeitemos ou admiremos nosso interlocutor. O que vai temperar a gama de pontos de vista diferentes sobre a situação serão nossos valores. O que temos possibilidade de fazer com nossos recursos pessoais, emocionais e financeiros dentro de nossos valores morais e do nosso ritmo pessoal. Não é uma questão de buscarmos ou seguirmos os conselhos que nos dão, mas uma questão de ampliar nossa visão a respeito da situação.


Buscar ajuda profissional, seja lá qual for a área de nossa encruzilhada também esclarece e desanuvia a realidade que nos desequilibra.

Fazer pesquisas em literaturas e posts confiáveis sobre as possíveis soluções, de tal forma que tenhamos dados de realidade também pode ser decisivo, uma vez que, muitas vezes, não temos informações atualizadas o suficiente.


Algum dos caminhos acima, ou até vários deles, podem funcionar como lanternas para entrarmos na caverna escura do desconhecido que se tem à frente.

Vale pensar, também, na busca por um profissional da área de Psicologia para o suporte emocional necessário nessa fase tão desafiadora.


O que se pode afirmar, com muita segurança, é que, independentemente de nossa decisão e escolhas, tudo vai acabar mudando, de uma forma ou de outra e à nossa revelia. O sol vai nascer e se pôr todos os dias; as descobertas tecnológicas vão avançar em velocidade vertiginosa; pessoas vão e vem para nossa vida, como em um aeroporto – umas chegam, outras vão; umas voltam, outras não!


E nossa experiência de vida vai nos mostrar, cada vez mais, as melhores possibilidades nessas encruzilhadas. Aprendemos, com o tempo, que ficar imaginando que o outro rumo poderia ter sido melhor só nos cega para as possibilidades daquele que optamos. Quando escolhemos, por mais difícil que tenha sido, foi pensando em acertar. E se nos frustrarmos, defrontando-nos com resultados muito diferentes daquele que imaginávamos, é hora de pensar em novas opções, em novos caminhos, talvez em nova encruzilhada a lidar.


Esta é a vida, esta é a história da humanidade! Erros e acertos fazem parte! Muito mais erros, aliás, do que acertos, caso um dia você tenha tempo e interesse de olhar mais atentamente para essa história.


Por favor, não pense que estou minimizando a relevância desses momentos de decisão pessoais, individuais, indo estrategicamente para uma visão generalizada. Apenas quero mostrar que existem alternativas, sempre haverá, se nos propusermos a olhar o nosso entorno, para enxergarmos realmente as opções, sem nos fixarmos na dor da situação em si ou na de cada possibilidade.


Podemos estancar, colocar as mãos no rosto tampando os olhos e nada fazermos para mudar a situação e/ou realizarmos a escolha. Ou levantarmos a cabeça para enxergarmos quem e o que pode nos ajudar!


A sensação de solidão pode ser avassaladora quando nos vemos numa encruzilhada. Mas essa sensação é apenas parcialmente real. Se, por um lado, muitas vezes a responsabilidade é realmente só nossa, por outro, não estamos sozinhos durante a busca pelo melhor caminho. Ter a consciência sobre isso é decisivo para encararmos nossas encruzilhadas como momentos de continuidade da vida e não como becos sem saída ou cavernas escuras e indecifráveis. Assim, “quem” e “o que” pode me ajudar são questões indispensáveis para esse momento.


Fiquem atentos(as)! A decisão é nossa! Só nossa! Inclusive em relação a isso!


Ana Paula Aquilino

Psicóloga Clínica, Coach, Palestrante

CRPSP 06/20694

Parceira da ConQuistah Consultoria Psicológica

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